Carta aberta

Deserto do Atacama, Chile 28/08/2010.

"...Quando eu sair daqui, compramos o vestido e nos casamos.”
( Bilhete enviado por um dos 33 mineiros a sua amada )


Triangulo mineiro, Brasil 24/09/2010. (quase um mês depois )

   Tinha tanta coisa pra te dizer. Só que lembrei à pouco que não sobrou mais nada e assim eu me calo...

   Mas,já tem um tempo que eu percebi que nós,nos perdemos através daquilo, que nos uniu antes de tudo,através das PALAVRAS ... e foi com um combinado de letras que te conquistei e foi por elas que primeiro me apaixonei e hoje eu sei que com elas te magoei e com elas também me decepcionei, enfim ...

   Comecei o texto com a frase encantadora do chileno porque de certa forma por um instante eu queria que tivesse sido simples assim,queria que só estivesse faltando o vestido para nos casarmos .Tem 4 dias que faço e refaço o percurso da nossa história(afinal foram quase 600 dias e não 6 ou 60 )no tentativa de identificar ou somente compreender...aonde foi mesmo que o caminho que até então era único tornou-se dois ? não sei apontar ao certo , mas sei que é com o samba que curo a minha dor,é o batuque e o ritmo que me dizem por onde caminhar... agora que já estou sem você.Não pretendo fazer rimas ou elaborar poemas na tentativa de te dizer como estou,não quero permear páginas e páginas relembrando aquilo que não restou .

   Eu sei que a minha vitrola e nem a N-o-s-s-a chia mais,a rotação dela está a-c-e-l-e-r-a-d-a e é assim que eu queria estar, os vinis estão empoeirados e outros aparentemente arranhados... então talvez seja melhor vende-los ? não,já que eles vieram primeiro que você..

   E assim o tempo se foi, s dias passaram e ele, o tempo velho não volta mais... Mas, só agora te sinto longe e distante então talvez seja a hora, o instante, a deixa de me desfazer das velhas roupas porque como diz Fernando com o passar do tempo elas já tem a forma do nosso corpo e eu não quero ficar a margem de mim mesmo...

  Como já o fiz antes uso a escrita para me despedir e se vasculhar entre velhos rascunhos tudo aquilo que já ousei um dia escrever, há sempre um até breve,um até logo ,o mais que repetido adeus ou até um nunca mais que sabe... só que agora não quero escrever bem , não me importa os erros de português( o meu é ruim mesmo ),a concordância que quero não é a verbal , não cabe mais a rima ,nem as cifras ,o ritmo que toca agora é outro, mas sobrou muito mais do que o violão e talvez tudo isso um dia vire arte ( a minha ) e entre lençois, fronhas,impressões e bordados seja possível encontrar um pouco que seja de você ou da tentativa de exorcizar você.

   Não quero resumir tudo e alongar o que já está fadado ao fim , pois é só mais uma carta entre tantas outras que não te mandei só que essa não termina com um da sua Thais .

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PS : Tinha que ser de vermelho .

Thais .